sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

"Babel e Sião", Camões

No último encontro do grupo, à falta de uma poesia previamente preparada (temos sempre o costume de ler uma no início das discussões...) acabei lendo de improviso - e lendo mau, reconheço - um poema de William Blake que estava mais à mão.

Depois, no sossego do lar, remexendo meus livros, topei com uma edição dos poemas líricos de Camões (capa ao lado) e, lendo, encontrei o poema Babel e Sião. Vou postar um trecho (ele é muito extenso, ocuparia quase que a página toda do blog...) aqui. Creio que esse poema tem mais e melhores relações com o tema do mês; o Eclesiastes. O poema fala do exílio dos judeus na Babilônia (com base no Salmo 137). Espero que gostem. Para ler na íntegra, sugiro o seguinte endereço: http://www.liriodovale.com/Portuguese/poesia/babel_siao.htm


Sôbolos rios que vão
Por Babilónia, me achei,
Onde sentado chorei
As lembranças de Sião
E quanto nela passei.

Ali, o rio corrente
De meus olhos foi manado;
E, tudo bem comparado,
Babilónia ao mal presente,
Sião ao tempo passado.

Ali, lembranças contentes
Na alma se representaram;
E minhas cousas ausentes
Se fizeram tão presentes,
Como se nunca passaram.

Ali, depois de acordado,
Co'o rosto banhado em água,
Deste sonho imaginado,
Vi que todo o bem passado,
Não é gosto, mas é mágoa.

E vi que todos os danos
Se causavam das mudanças
E as mudanças dos anos;
Onde vi quantos enganos
Faz o tempo às esperanças.

Ali vi o maior bem
Quão pouco espaço que dura;
O mal que depressa vem,
E quão triste estado tem
Quem se fia da ventura.

Vi aquilo que mais vale,
Que então se entende melhor,
Quanto mais perdido for;
Vi ao bem suceder mal
E, ao mal, muito pior.

E vi com muito trabalho
Comprar arrependimento.
Vi nenhum contentamento,
E vejo-me a mim, que espalho
Tristes palavras ao vento.



(...)

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