segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Clarice na cabeceira

Receber um presente é muito bom, mas receber um presente inesperado é melhor ainda... E, foi com esse misto de surpresa e imprevisto que me chegou às mãos como presente de aniversário atrasado, um exemplar de “Clarice na cabeceira”. O livro traz vinte crônicas de Clarice Lispector comentadas por personalidades do cenário cultural como estudiosos, escritores e artistas.
De leitura fácil e agradável, o livro é para ser lido de um fôlego só e traz verdadeiros achados. Crônicas deliciosas que só uma escritora do seu quilate poderia escrever, em um misto da profundidade de sua obra, com a rapidez que a crônica requer. Ferreira Gullar comenta uma crônica no livro, definindo a escritora de maneira primorosa: “ (...) o que Clarice efetivamente foi, o que fazia dela uma pessoa única e exasperada, era sua patética entrega ao insondável da existência – e a necessidade de escrever, de tentar incansavelmente dizer o indizível, mas certa de que, ao torná-la dizível, o dissiparia.”
Confesso que Clarice me toca. E, como ela mesma afirmava a relação com a literatura passava por essa emoção de ser tocada por um texto, um parágrafo ou mesmo uma frase que vinha de sua imaginação. Desde a faculdade, quando conheci mais de perto esse universo, identifiquei-me com sua escrita, sendo capaz de eleger “Uma aprendizagem ou livro dos prazeres” um dos melhores livros que já li. Enigmático e surpreendente, assim como a própria autora.
Ter Clarice na minha cabeceira tem sido dormir embalada por alguma coisa muito boa, que não consigo definir exatamente... Ainda mais quando leio crônicas tão deliciosas como “Das vantagens de ser bobo”, da qual deixo apenas um pequeno trecho, para que entendam do que estou falando: “Ser bobo é uma criatividade e, como toda criação, é difícil. Por isso é que os espertos não conseguem passar por bobos. Os espertos ganham dos outros. Em compensação os bobos ganham vida. Bem-aventurados os bobos porque sabem sem que ninguém desconfie. Aliás, não se importam que saibam que eles sabem. Há lugares que facilitam mais as pessoas serem bobas (não confundir bobo com burro, com tolo, com fútil). Minas Gerais, por exemplo, facilita ser bobo. Ah, quantos perdem por não nascer em Minas!”
E, como boba que sou, continuo amando Clarice.

2 comentários:

Ailton Augusto disse...

Carolina,

apesar de eu gostar de ler um autor por ele mesmo, sem os comentários das celebridades, vou querer o livro emprestado depois.

Sobre Minas facilitar o "ser bobo", Clarice comenta algo desse tipo em uma carta a Lúcio Cardoso.

Abraço!

Carolina Lima disse...

Vou te falar que gostei de ler alguns comentários, enriqueceram bastante a leitura. Me deram uma visão mais ampliada do universo de Clarice, traduzido por esses comentaristas. Te empresto sim! Abraços!