terça-feira, 5 de abril de 2011

Fiódor Nikháilovitch Dostoiévski (1821-1881)


Neste mês, os Palimpsestos discutem a obra do ano, Crime e Castigo (1866) de Fiódor Nikháilovitch Dostoiévski (Moscou, 1821-1881). Apesar de se formar em engenharia na Escola de Engenharia Militar de São Petersburgo em 1838, Dostoiévski renuncia a carreira militar e dedica-se à sua vocação literária a partir de 1844. Sua primeira obra, Gente Pobre (1846), foi recebida com boas críticas e caracteriza-se por uma narrativa naturalista das cenas da vida urbana e dos tipos representativos das classes baixas. Nela já desponta um marco da literatura dostoievskiana: um “romance polifônico” que confere autonomia às vozes de todos os personagens. Em sua segunda obra, O Sósia (1946), também se revelam elementos marcantes dos grandes romances dostoievskianos¹. Nestas obras fazem-se presente a ambiguidade com que o escritor russo descreve seus personagens e a ação romanesca em que o ato de determinado personagem realiza possibilidades latentes em outros, ou seja, a ação de um personagem é independente, mas também revela gestos sobre os quais um outro projeta sua fantasia.

Sua carreira literária teve uma interrupção brusca em 1849, quando foi preso por envolvimento em conspiração contra o czar e condenado à pena de morte, a qual, contudo, foi substituída por quatro anos de trabalho forçado e quatro anos de trabalho militar como soldado raso na Sibéria.

Seus grandes romances são permeados por estas vivências no campo de trabalho forçado, por uma sensibilidade à representação da realidade e por uma profunda sondagem do interior humano. Seus personagens vivem uma inextricável ambivalência de sentimentos e atitudes; assim, eles são simultaneamente marcados pela falta, baixeza de sentimentos, pecado... e pelo desejo de transcendência, eternidade, culpa...

Conforme ressalta Bezerra, Dostoiévski autodefine-se como um homem que vive intensamente a dúvida, experimentando a descrença e a sede de crer. Tal oscilação marca sua própria vida, mas também a paisagem interior de seus personagens, encerrada em conflitos filosóficos, éticos, políticos e psicológicos².



1.Memórias do Subsolo (1864), Crime e Castigo (1866), O Idiota (1868), Os Demônios (1871) e Os Irmãos Karamázov (1878). 2.Texto elaborado a partir da leitura de BEZERRA, Paulo. Prefácio, em Crime e castigo. São Paulo: Editora 34; e PINTO, Manuel da Costa. Entrelivros: literatura russa, p.22-35.

Nenhum comentário: